Já está nas bancas o número 83 da Revista Língua Portuguesa, de setembro-2012. Na coluna Versão Brasileira, escrevo um artigo sobre o misterioso desaparecimento de um clássico inglês. Trata-se do livro O último caso de Trent, de Edmund C. Bentley. O artigo encontra-se aqui.
Mas há ainda outra particularidade a destacar. O livro recebeu uma tradução em Portugal que é autêntico caso de polícia!
Naquela época, pouco depois da 2ª Guerra, as editoras europeias precisavam economizar papel, e o tradutor deve ter recebido indicações para "enxugar" o texto. Esta é a única explicação benévola para a quantidade de cortes e omissões que o original sofreu em terras lusitanas. A publicação portuguesa é de 1950.
No Brasil, as duas traduções que foram realizadas desapareceram das estantes. Somente em sebos é possível agora encontrá-las. Este misterioso sumiço merece uma investigação à la Sherlock Holmes!
sábado, 8 de setembro de 2012
terça-feira, 31 de julho de 2012
Valery Larbaud, rogai por nós!
Infelizmente esgotado entre nós, o livro Sob a invocação de São Jerônimo (São Paulo: Mandarim, 2001), do escritor francês Valery Larbaud (1881-1957), é leitura essencial para quem se dedica a traduzir ou aprecia esse trabalho, essa arte.
Graças à Estante Virtual, porém, você pode adquirir um exemplar em bom estado, com preço acessível. E encontrar nesse texto a voz de um verdadeiro literato, de um amante da palavra, de um espírito livre, traços intelectuais que sempre foram raros. Agora são raríssimos.
E a paixão tradutória em cada página. Larbaud capta a sutileza exigida para praticar este ofício. Porque existe uma balança. Os tradutores bem sabem...
Num dos pratos, depositamos uma a uma as palavras do Autor; no outro, experimentamos alternadamente um número indeterminado de palavras pertencentes à língua para a qual estamos traduzindo esse Autor, e aguardamos o instante em que os dois pratos estejam em equilíbrio. (pág. 78)
Impossível equilíbrio! Necessária utopia... Traduzir tem muito de experiência e ousadia, exatidão e devaneio, tentativa e erro, intuição, conhecimento do imponderável, sensibilidade. A balança está dentro do próprio tradutor. O próprio tradutor é esta balança.
Quanto ao livro de Larbaud, ainda uma observação. A tradução (excelente!) do francês foi assinada por Joana Angélica d'Avila Melo e João Ângelo Oliva Neto, cujos nomes falam de anjos e outras reminiscências bíblicas e religiosas: João, oliveira, Joana d'Arc, Teresa d'Ávila...
Graças à Estante Virtual, porém, você pode adquirir um exemplar em bom estado, com preço acessível. E encontrar nesse texto a voz de um verdadeiro literato, de um amante da palavra, de um espírito livre, traços intelectuais que sempre foram raros. Agora são raríssimos.
E a paixão tradutória em cada página. Larbaud capta a sutileza exigida para praticar este ofício. Porque existe uma balança. Os tradutores bem sabem...
Num dos pratos, depositamos uma a uma as palavras do Autor; no outro, experimentamos alternadamente um número indeterminado de palavras pertencentes à língua para a qual estamos traduzindo esse Autor, e aguardamos o instante em que os dois pratos estejam em equilíbrio. (pág. 78)
Impossível equilíbrio! Necessária utopia... Traduzir tem muito de experiência e ousadia, exatidão e devaneio, tentativa e erro, intuição, conhecimento do imponderável, sensibilidade. A balança está dentro do próprio tradutor. O próprio tradutor é esta balança.
Quanto ao livro de Larbaud, ainda uma observação. A tradução (excelente!) do francês foi assinada por Joana Angélica d'Avila Melo e João Ângelo Oliva Neto, cujos nomes falam de anjos e outras reminiscências bíblicas e religiosas: João, oliveira, Joana d'Arc, Teresa d'Ávila...
domingo, 22 de julho de 2012
Retraduzir os evangelhos
Em seu livro O que Jesus quis dizer (Rocco, 2007), analisando traduções do Novo Testamento, Garry Wills critica conservadorismos e formalismos que não captam a força da mensagem de Jesus no texto grego original. Como Nietzsche observou (com desprezo), Deus, quando decidiu escrever, optou pelo grego não clássico, pela koiné, a linguagem dos comerciantes e cobradores de impostos, conhecida naquele tempo, na Palestina. O grego do Evangelho não é o de Platão... mas o do povão!
Nesse sentido, a linguagem evangélica não é elegante nem religiosa. Carece de solenidade, embora o espanto sagrado e a reverência pela intervenção divina na vida humana estejam presentes.
Um exemplo. Jesus ressuscitado, no mesmo dia em que saiu do túmulo, encontra dois discípulos no caminho entre Jerusalém e Emaús (cf. Lc 24, 13-25), e lhes pergunta (em aramaico, naturalmente) por que parecem tão tristes. Estes, não o reconhecendo, relatam o fracasso do Nazareno. Quando Jesus lhes dirige a palavra, os chama de "néscios" ou, segundo outras traduções, "estultos" ou "sem inteligência", dependendo da edição.
A palavra grega é ἀνόητοι (anóetoi), e requer tradução atualizada. Jesus os chamou de "desmiolados", "tapados", "bobos" ou "lesados". E os dois não se ofenderam porque o tom de voz carregava um misto de carinho e perplexidade. No original, por se tratar de um vocativo, há a letra ômega — Ὦ ἀνόητοι —, indicando espanto, ironia, solidariedade etc.
Para esta passagem proponho a seguinte retradução: "Ah, seus tapados..."!
Nesse sentido, a linguagem evangélica não é elegante nem religiosa. Carece de solenidade, embora o espanto sagrado e a reverência pela intervenção divina na vida humana estejam presentes.
Um exemplo. Jesus ressuscitado, no mesmo dia em que saiu do túmulo, encontra dois discípulos no caminho entre Jerusalém e Emaús (cf. Lc 24, 13-25), e lhes pergunta (em aramaico, naturalmente) por que parecem tão tristes. Estes, não o reconhecendo, relatam o fracasso do Nazareno. Quando Jesus lhes dirige a palavra, os chama de "néscios" ou, segundo outras traduções, "estultos" ou "sem inteligência", dependendo da edição.
A palavra grega é ἀνόητοι (anóetoi), e requer tradução atualizada. Jesus os chamou de "desmiolados", "tapados", "bobos" ou "lesados". E os dois não se ofenderam porque o tom de voz carregava um misto de carinho e perplexidade. No original, por se tratar de um vocativo, há a letra ômega — Ὦ ἀνόητοι —, indicando espanto, ironia, solidariedade etc.
Para esta passagem proponho a seguinte retradução: "Ah, seus tapados..."!
domingo, 15 de julho de 2012
Citar é uma arte... e traduzir é preciso
Citar é uma arte, e citar textos que foram escritos em outros idiomas pode conferir uma autoridade adicional à nossa argumentação e/ou atrair a admiração do leitor. Citar traduzindo, no entanto, é mais acessível e mais útil.
E é aí que ressurge o velho problema: nem sempre as traduções disponíveis são as melhores. No artigo "A beleza de citar", apresento e comento cinco casos (um em inglês, um em francês, dois em grego e um em latim). O artigo pode ser lido aqui. Foi publicado na Revista Língua Portuguesa, n. 81, deste mês de julho-2012. A revista já chegou às bancas.
E é aí que ressurge o velho problema: nem sempre as traduções disponíveis são as melhores. No artigo "A beleza de citar", apresento e comento cinco casos (um em inglês, um em francês, dois em grego e um em latim). O artigo pode ser lido aqui. Foi publicado na Revista Língua Portuguesa, n. 81, deste mês de julho-2012. A revista já chegou às bancas.
quinta-feira, 14 de junho de 2012
Tradução peregrina
Meu artigo Tradução peregrina, na Revista Língua Portuguesa (Editora Segmento) deste mês de junho (n. 80), comenta as viagens tradutórias de The Pilgrim's Progress, de John Bunyan (1628-1688).
O peregrino tornou-se um clássico da literatura devocional protestante, e já foi traduzido para mais de 200 línguas, graças à força de suas alegorias e à ação dos missionários. Gilberto Freyre lamentava que fosse uma obra pouco difundida no Brasil, comparando-a ao clássico católico Imitação de Cristo.
A peregrinação de Christian é angustiante, perigosa, muitas vezes solitária, traços típicos de uma espiritualidade que, na biografia do autor, correspondia à perseguição movida contra ele pela Igreja Anglicana.
Para ler meu artigo, clique aqui: Tradução peregrina... e boas peregrinações!
O peregrino tornou-se um clássico da literatura devocional protestante, e já foi traduzido para mais de 200 línguas, graças à força de suas alegorias e à ação dos missionários. Gilberto Freyre lamentava que fosse uma obra pouco difundida no Brasil, comparando-a ao clássico católico Imitação de Cristo.
A peregrinação de Christian é angustiante, perigosa, muitas vezes solitária, traços típicos de uma espiritualidade que, na biografia do autor, correspondia à perseguição movida contra ele pela Igreja Anglicana.
Para ler meu artigo, clique aqui: Tradução peregrina... e boas peregrinações!
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sexta-feira, 11 de maio de 2012
Millôr tradutor
Millôr Fernandes (1924-2012) foi um grande tradutor. Esta sua faceta não é mencionada com frequência. Talvez porque traduzia em silêncio, ou porque sua atividade como jornalista e humorista roubava a cena.
Como seria de se esperar, tradução para o carioca Millôr só valia a pena se fosse a combinação entre trabalho sério e oportunidade de diversão inteligente.
Escrevi um artigo sobre Millôr tradutor na coluna Versão Brasileira da Revista Língua Portuguesa deste mês de maio.
Boa leitura!
Como seria de se esperar, tradução para o carioca Millôr só valia a pena se fosse a combinação entre trabalho sério e oportunidade de diversão inteligente.
Escrevi um artigo sobre Millôr tradutor na coluna Versão Brasileira da Revista Língua Portuguesa deste mês de maio.
Boa leitura!
domingo, 29 de abril de 2012
Tradução na era digital
O tradutor Fabio Said, profissional de destaque na área e editor de um blog que vale a pena conhecer, assina alguns artigos no número especial Tradução & Linguagem da Revista Língua Portuguesa, já nas bancas.
Num deles, "Mão de obra digital", Fabio nos ajuda a entender como funcionam as ferramentas CAT (que nada têm a ver com tradução automática), instrumentos necessários para os tradutores de hoje; outro artigo intitula-se "Traduções que fluem", com sete técnicas básicas para quem está começando a trabalhar no ramo; um terceiro artigo é "O mundo é dos tradutores", em que analisa o atual momento deste mercado.
Ainda neste número especial, matéria de Carmen Guerreiro, "Profissionais conectados", sobre a profissão mais globalizada do nosso tempo. Abaixo, sugestões que ela reuniu para quem deseja escrever e traduzir na Idade Mídia:
Num deles, "Mão de obra digital", Fabio nos ajuda a entender como funcionam as ferramentas CAT (que nada têm a ver com tradução automática), instrumentos necessários para os tradutores de hoje; outro artigo intitula-se "Traduções que fluem", com sete técnicas básicas para quem está começando a trabalhar no ramo; um terceiro artigo é "O mundo é dos tradutores", em que analisa o atual momento deste mercado.
Ainda neste número especial, matéria de Carmen Guerreiro, "Profissionais conectados", sobre a profissão mais globalizada do nosso tempo. Abaixo, sugestões que ela reuniu para quem deseja escrever e traduzir na Idade Mídia:
sábado, 28 de abril de 2012
Tradutores automáticos não têm lógica...
Foram publicados três artigos meus neste número especial (abril-2012) da Revista Língua Portuguesa, já nas bancas.
Um deles, "Na linha de montagem da tradução", compara o resultado obtido com tradutores automáticos e o inimitável trabalho dos tradutores humanos...
Começa assim:
É melhor não confiar de olhos fechados (e muito menos com os olhos abertos!) nas ferramentas de tradução, várias delas on-line, disponíveis na web. São insuficientes e imprecisas, embora, no século passado, entre as décadas de 1950 e 1960, difundia-se a ideia de que o computador viria a traduzir de forma satisfatória os mais diversos textos, ilusão descartada trinta anos depois, e substituída, hoje, por um objetivo modesto e factível: criar aplicativos que auxiliem num momento inicial, sempre à espera da intervenção e da criatividade humanas.
[CONTINUA]
sexta-feira, 27 de abril de 2012
Tradição, tradução
quinta-feira, 26 de abril de 2012
Traduzir é atividade especial
Esta é a primeira postagem do Blog Tradução Brasileira.
Fiz coincidir a estreia do novo blog com o lançamento de um número especial da Revista Língua Portuguesa, que aborda o tema com a tradicional competência da Editora Segmento.
Mais adiante veremos os artigos publicados. A edição está nas bancas. Por ora, veja a capa!
Fiz coincidir a estreia do novo blog com o lançamento de um número especial da Revista Língua Portuguesa, que aborda o tema com a tradicional competência da Editora Segmento.
Mais adiante veremos os artigos publicados. A edição está nas bancas. Por ora, veja a capa!
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