quarta-feira, 12 de março de 2014

Breaking Bad é viciante

O roteiro da série Breaking Bad  mistura doses de suspense, violência, ironia, humor, tragédia, drama e... discussão ética.

O título, com duas palavras fortes, ambas iniciadas com o fonema bilabial explosivo /b/, faz o sangue começar a ferver. Adrenalina correndo solta. Como traduzi-lo?

A TV Record, ao trazer a série para o Brasil, manteve as duas palavras em inglês, acrescentando um subtítulo que pretende ser esclarecedor  ̶  Breaking Bad: A Química do Mal. O pacato professor de Química, Walter White, torna-se um criminoso. Sai do campo do bem (pai de família, esposo legal, professor abnegado...) e entra no campo do mal (roubo, tráfico, assassinato...).

O ator Bryan Cranston, que interpreta o protagonista, explicou numa entrevista que a expressão "breaking bad" é uma frase típica dos habitantes do sul dos Estados Unidos. Refere-se a uma radical mudança de comportamento. Quem estava no caminho certo, toma outro rumo, se extravia. O personagem Walter andava na linha, fazendo tudo certinho, em paz com a lei. Mas, submetido a uma necessidade de sobrevivência, busca meios para ganhar dinheiro rapidamente. Encontrando uma brecha, transgride, pega o caminho errado.

A discussão ética nos levaria longe. Também seria interessante pensar na mudança psicológica. O professor Walter é um idealista introvertido, cumpridor dos deveres, e vai se transformando num contraventor racionalista, calculista, minucioso, com os pés no chão, e ao mesmo tempo irascível.

O tradutor Eduardo Pinheiro já fez ótimas considerações sobre a expressão. Uma delas indica que o verbo no gerúndio, breaking, indica um processo: o personagem está caindo cada vez mais baixo, quebrando cada vez mais as regras, perdendo progressivamente a chance de voltar ao mundo da ordem moral.

Eduardo também faz ver que bad, além da ideia de maldade, carrega um poder enfatizador. Então, se fosse o caso de traduzir, teríamos o título "Quebrando geral". Alguém na web sugeriu "Reação em cadeia", trabalhando com a ambiguidade entre vida do crime e terminologia do campo da Química.

Assumindo que traduções perfeitas são impossíveis, a série poderia chamar-se "Chutando o pau da barraca" ou "Chutando o balde". Mantém o verbo no gerúndio. Aproveita a semelhança de "barraca" e, mais ainda, de "balde" com bad. E capta, com essa frase coloquial, a ideia de que alguém abandona com violência uma situação (aparentemente) estável e parte para o vale-tudo.

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